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Construção Civil Enfrenta Dificuldades para Contratar: Bolsa Família é Parte do Desafio, Dizem Especialistas

Dados do Ministério do Desenvolvimento Social afirmam, em 12 estados brasileiros — todos nas regiões Norte e Nordeste — há mais famílias recebendo o Bolsa Família do que pessoas empregadas formalmente.

O setor da construção civil, um dos principais motores de geração de empregos no Brasil, enfrenta um desafio estrutural que vai além da falta de qualificação: a dificuldade de atrair trabalhadores formais em meio à concorrência com programas de transferência de renda, como o Bolsa Família.

Segundo executivos da área, há um impasse crescente entre a formalização do trabalho e a manutenção do benefício social. O problema se intensifica em regiões Norte e Nordeste, onde o número de beneficiários do Bolsa Família já supera o de trabalhadores com carteira assinada.

De acordo com um levantamento do Hub do Investidor, com base em dados do Ministério do Desenvolvimento Social e do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), em 12 estados brasileiros — todos nas regiões Norte e Nordeste — há mais famílias recebendo o Bolsa Família do que pessoas empregadas formalmente. Essa distorção tem reflexos diretos sobre a disponibilidade de mão de obra, especialmente em setores que demandam trabalho intensivo e com menor qualificação, como a construção civil.

Medo de perder o benefício trava formalização

Cristiano Gregorius, diretor-executivo do Sienge — plataforma de soluções tecnológicas para o setor da construção — afirma que a situação vai além de um problema pontual e revela uma crise estrutural. “Hoje, muitos trabalhadores evitam assinar carteira com medo de perder o Bolsa Família. Isso reduz o interesse pela formalização e atrapalha o crescimento das empresas”, afirma.

O principal temor dos beneficiários é que, ao aceitar um trabalho com carteira assinada, ultrapassem o teto de renda mensal por pessoa — atualmente em R$ 218 — e tenham o benefício cancelado.

Em maio de 2025, o governo federal iniciou uma tentativa de flexibilização: mesmo famílias que ultrapassem esse teto, desde que a renda não ultrapasse R$ 706 por pessoa, poderão continuar no programa por até 12 meses. Contudo, nesse período de transição, o valor recebido é reduzido à metade.

Para José Roberto Duque, especialista em políticas públicas, a medida é insuficiente para aliviar a insegurança dos beneficiários. “A redução de 50% no benefício já é um impacto significativo para famílias em situação de vulnerabilidade. Isso gera receio e desestimula a entrada no mercado formal”, explica.

O dilema: salário ou estabilidade social?

Empresários do setor apontam uma “concorrência” entre os salários oferecidos na construção civil e os benefícios sociais. Em muitos casos, o valor líquido de um emprego formal de baixa qualificação não representa um ganho considerável em relação ao benefício do Bolsa Família, especialmente considerando custos como transporte, alimentação e a perda de programas auxiliares.

“Na ponta do lápis, o trabalhador pensa: ‘Se eu for trabalhar, posso ganhar um pouco mais, mas perco a estabilidade que o Bolsa Família me dá. E se for demitido, volto à estaca zero’. É uma conta difícil para ele fazer”, afirma Gregorius.

Caminhos possíveis

O setor da construção civil, que tem retomado crescimento após a pandemia e precisa de mão de obra para manter o ritmo, defende ajustes mais estruturais no programa. Uma das propostas é permitir maior flexibilidade na transição entre o benefício e o emprego formal, com tempo mais longo de adaptação ou regras que permitam o acúmulo parcial entre salário e auxílio, durante um período de estabilidade.

“Precisamos de um sistema que incentive a formalização, e não o contrário”, reforça Gregorius. “Se o país quer crescer com justiça social, é necessário que os programas de transferência de renda estejam alinhados com as políticas de empregabilidade.”


Dados que chamam atenção:

  • 12 estados do Norte e Nordeste têm mais famílias no Bolsa Família do que trabalhadores com carteira assinada.
  • Renda limite para entrada no Bolsa Família: R$ 218 por pessoa.
  • Renda máxima para permanecer com redução de 50% no benefício: R$ 706 por pessoa, por até 12 meses.
  • Milhares de vagas em aberto no setor da construção, com empresas relatando dificuldade para contratar mão de obra, especialmente no Nordeste.

Conclusão

O Bolsa Família cumpre um papel fundamental no combate à pobreza e à desigualdade. No entanto, especialistas alertam que, sem ajustes, o programa pode acabar desestimulando a formalização do trabalho — especialmente em setores com maior rotatividade e baixos salários iniciais, como a construção civil.

Encontrar o equilíbrio entre proteção social e estímulo ao emprego formal será crucial para garantir que o crescimento econômico do país venha acompanhado de inclusão e desenvolvimento sustentável.

João Alberto

Jornalista: DRT 08505/DF. Radialista, Escritor e Poeta


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