Apagão Global de Energia e Internet: Realidade Científica ou Teoria Alarmista?
Conversamos com especialistas e analisamos estudos para entender melhor o que está em jogo.
Por João Alberto
30 de setembro de 2025
Um cenário apocalíptico tem ganhado espaço em redes sociais e círculos de discussão: o de um apagão global simultâneo de energia elétrica e internet. As consequências seriam devastadoras, atingindo todos os setores da sociedade — da saúde à segurança, da economia ao abastecimento básico. Mas, afinal, existe base científica para esse temor? Quais são as reais chances de isso acontecer? E como o mundo reagiria?
Afinal, é possível um apagão global de energia?
A resposta curta é: improvável, mas não impossível.
Segundo o engenheiro eletricista e pesquisador da USP, Dr. Luiz Tavares, a infraestrutura elétrica global é altamente interconectada, mas não centralizada. “As redes elétricas são regionais ou nacionais. Há interligações internacionais, como na Europa, mas uma falha total simultânea em todos os continentes exigiria um evento de proporções catastróficas e globais.”
Entre os eventos que poderiam causar colapsos massivos em múltiplas regiões, estão:
- Tempestades solares extremas (CME – Ejeções de Massa Coronal): Esses eventos podem sobrecarregar transformadores e destruir satélites, afetando tanto a energia quanto as comunicações.
- Ciberataques coordenados em larga escala contra infraestruturas críticas.
- Pulso Eletromagnético (EMP) gerado por armas nucleares detonadas em alta altitude — um cenário estudado por forças armadas, mas de risco geopolítico extremamente baixo.
- Eventos naturais globais, como supervulcões ou um asteroide de grandes proporções, com impactos indiretos sobre redes e satélites.
No entanto, nenhum desses cenários tem alta probabilidade segundo a comunidade científica atual. “Estamos falando de eventos extremos e raros, mais discutidos em estudos de segurança nacional do que em previsões científicas regulares”, completa o Dr. Tavares.
E quanto à internet? Ela poderia simplesmente “desligar”?
A internet, por mais global que pareça, também não é uma entidade única — é um conjunto de redes descentralizadas, com milhões de servidores espalhados pelo mundo.
Segundo a pesquisadora em redes de comunicação da UFRJ, Profa. Mariana Oliveira, uma interrupção total só ocorreria sob condições muito específicas. “Mesmo que grandes cabos submarinos sejam danificados — por terremotos, sabotagem ou falhas técnicas —, a internet pode se reorganizar por rotas alternativas. Ela foi projetada para resistir a falhas parciais.”
Contudo, um colapso global de energia, como o mencionado anteriormente, poderia sim impactar gravemente a internet, já que servidores, data centers e provedores de infraestrutura também dependem de energia contínua. Adicionalmente, uma tempestade solar severa poderia afetar os satélites e sinais GPS, usados por sistemas de roteamento.
Então por que esse medo está crescendo?
Teorias sobre um “grande apagão” viralizam especialmente em tempos de instabilidade geopolítica e avanço tecnológico. O crescimento da dependência digital — com bancos, governos e sistemas de abastecimento operando online — aumenta a percepção de vulnerabilidade.
Além disso, avisos legítimos de governos e especialistas sobre possíveis riscos são muitas vezes exagerados ou distorcidos nas redes sociais.
Em 2021, por exemplo, a Áustria promoveu campanhas de conscientização sobre o risco de “blackouts” regionais por falhas no sistema europeu. A campanha visava preparação civil, mas foi interpretada erroneamente como alerta de um evento iminente global.
Quais seriam as consequências de um apagão global?
Se, por hipótese, houvesse um apagão simultâneo de energia e internet em escala global, os efeitos seriam imediatos e devastadores:
1. Comunicações interrompidas
- Telefones, redes sociais, e-mails e qualquer forma digital de contato seriam afetados.
2. Colapso dos serviços essenciais
- Hospitais, transportes, sistemas de abastecimento de água e alimentos ficariam comprometidos.
3. Pânico financeiro
- Bancos, bolsas de valores e sistemas de pagamento parariam. Cartões de crédito e débito não funcionariam.
4. Desordem social
- Sem comunicação nem serviços básicos, o risco de saques, violência e pânico coletivo aumentaria rapidamente.
5. Impactos geopolíticos
- Estados poderiam usar o caos para movimentos estratégicos, escalando conflitos.
Estamos preparados?
Embora um apagão global seja improvável, especialistas defendem que governos e cidadãos devem estar preparados para falhas regionais severas — algo já visto, por exemplo, no Texas (EUA), em 2021, ou no Amapá (Brasil), em 2020.
“Não se trata de entrar em pânico, mas de entender que resiliência energética e digital são temas de segurança nacional”, diz a Profa. Mariana. Entre as recomendações básicas estão:
- Estoques de água potável e alimentos não perecíveis;
- Lanternas e baterias portáteis;
- Rádios à manivela ou pilha;
- Conhecimento básico de primeiros socorros;
- Estabelecer pontos de encontro com familiares em caso de falhas de comunicação.
Conclusão
Apesar do crescente debate e de cenários hipotéticos catastróficos, a ciência é clara ao afirmar que um apagão global total de energia e internet é altamente improvável, embora não impossível em casos extremos.
A melhor resposta não é o medo, mas a preparação racional e baseada em informação confiável. Entender os riscos, sem exagerá-los, é o primeiro passo para garantir que a sociedade possa enfrentar eventuais crises com responsabilidade e eficiência.
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