Em 2017, mais de sete mil animais foram resgatados em Goiás
Segundo o Corpo de Bombeiros, mais de 60% eram animais silvestres, que chegam às cidades em busca de comida e abrigo.
Apesar do susto que causou e da grande repercussão na mídia e nas redes sociais, a onça do Morro do Mendanha é raridade entre os animais resgatados. O biólogo do Zoológico de Goiânia, Renato Vieira Rodrigues, explica que mamíferos carnívoros de grande porte, apesar de serem encontrados com facilidade no Cerrado, costumam viver embrenhados nas matas e, por isso, quase não são vistos próximos às grandes cidades.
As espécies encontradas com mais frequência, segundo o biólogo, são aves, serpentes e pequenos mamíferos. “Nós vivemos em uma região entranhada no Cerrado, que é muito rico em fauna, por isso a aparição de animais silvestres é tão comum. Contudo, os pássaros e as cobras são mais facilmente encontrados, pois seu deslocamento é mais simples e há maior número de espécies desses animais”, explica.
Um levantamento realizado no ano passado pela Agência Municipal do Meio Ambiente (AMMA) corrobora com a explicação de Renato, pois mostra que, apenas em Goiânia, mais de 80 espécies diferentes de aves podem ser encontradas, tanto aquelas que habitam a região, como aquelas cuja cidade faz parte de sua rota de deslocamento e reprodução. Apesar da maioria, os pássaros não são os únicos.
A bióloga da AMMA, Vanessa Carolina de Castro, elenca alguns animais que são vistos com frequência no Estado: capivaras, macacos, gambás, cutias, quatis, tamanduás e as cobras cipó e jibóia. Ela explica que essas espécies procuram a cidade em busca de alimento e abrigo, sobretudo no período chuvoso e durante secas prolongadas.
“No período chuvoso, muitas tocas são inundadas e por isso as cobras são bastante frequentes. Já durante a seca, os animais buscam alimentos e as vezes chegam à cidade fugindo de incêndios ”, conta a bióloga.
Resgate
Vanessa conta que nem todos os animais silvestres que aparecem na cidade precisam ser resgatados, muitos, por exemplo, vivem nos parques e bosques de Goiânia. A essas espécies que se adaptaram à vida urbana e conseguem viver sem mais problemas e se reproduzir nessas áreas são chamadas, segundo a bióloga, de “animais cosmopolitas”. É o caso dos macacos que vivem no Campus Samambaia da Universidade Federal de Goiás (UFG) ou no Parque Areião, por exemplo.
Contudo, quando um animal silvestre está machucado, doente ou apresenta risco para si mesmo e para os seres humanos, ele precisa ser resgatado. Nesses casos, a AMMA ou o Corpo de Bombeiros fazem esse papel, encaminhando a espécie para o Centro de triagem de animais silvestres (Cetas), do IBAMA.
O tenente Favaro, do Corpo de Bombeiros, explica que quem entra para a corporação, passa por treinamentos específicos para o resgate de animais. “Nós temos equipamentos para realizar esse salvamento, e usamos sedativo apenas em último caso, quando o bicho está arisco e coloca sua vida e das pessoas em risco”, explica.
O tenente explica que quando o animal não está machucado e nem é perigoso, sua soltura é feita pela corporação em áreas específicas que não sejam de preservação ambiental. Em casos mais delicados, os bichos precisam ser levados, seja pelos bombeiros ou por equipes da AMMA, para o Cetas, onde, após avaliação e período de quarentena, sua soltura é definida.
Renato conta que após esse período de recuperação no Cetas, alguns animais já chegaram ao Zoológico de Goiânia. “É o caso do nosso casal de onças que foi encontrado ainda filhote em uma fazenda, em cima da mãe que havia sido morta. Além disso, temos papagaios, araras e cobras que chegaram aqui após serem resgatadas”, conclui o biólogo.
*Amanda Sales é integrante do programa de estágio do convênio entre Ciee e Mais Goiás, sob orientação de Thaís Lobo