Em entrevista, Temer erra dados sobre Previdência e empregos formais
O presidente errou ao afirmar que os servidores públicos representam quase metade do déficit previdenciário
O presidente Michel Temer celebrou, nesta segunda-feira (29), avanços de seu governo na área ambiental e no mercado de trabalho, em entrevista à Rádio Bandeirantes, e também voltou a defender a reforma da Previdência. A equipe de checagem do GLOBO conferiu os números citados por Temer e constatou que o presidente errou ao afirmar que os servidores públicos representam quase metade do déficit previdenciário e que o país gerou cerca de 380 mil vagas de emprego formais nos últimos quatro meses.
O sistema de aposentadoria dos trabalhadores do setor privado (INSS) fechou 2017 com déficit de R$ 183,9 bilhões, o que representou alta de 18,7% na comparação com o registrado em 2016, enquanto o regime próprio (dos funcionários públicos federais, incluindo os militares das Forças Armadas) somou déficit de R$ 86,3 bilhões, alta de 11,9%. Considerando o rombo de R$ 268,7 bilhões com os dois regimes, o funcionalismo público correspondeu a 32% do déficit previdenciário do ano passado e não metade, como afirmou Temer.
O recorte das pesquisas sobre emprego no Brasil não costuma ser feito no período de quatro meses, mas por trimestres. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) do último trimestre de 2017 ainda não foi divulgada, o que deve acontecer na próxima quarta-feira. Assim, não é possível verificar quantos postos de trabalho formais e informais foram abertos nos últimos quatro meses. O resultado mais recente, divulgado em outubro, mostra que no terceiro trimestre de 2017 foram criadas 1.061 milhão de postos de trabalho. A criação de vagas foi impulsionada pelo trabalho informal. O número de empregados sem carteira cresceu em 287 mil pessoas. De acordo com a Pnad, 10.910 milhões de trabalhadores fazem parte deste grupo.
Já o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) é referência quanto ao número de empregados com carteira assinada. Segundo o Caged, o saldo de empregos de setembro a dezembro do ano passado — a conta entre o número de empregados admitidos e o número de desligados — ficou negativo em 229.840 postos de trabalho. Somente em dezembro, 328.539 trabalhadores ficaram sem emprego, o pior resultado neste período. Em novembro, 12.292 postos de trabalho foram fechados. Por outro lado, em outubro e setembro o saldo foi positivo, 76.599 e 34.392 vagas foram abertas, respectivamente.
Procurado, o Palácio do Planalto não respondeu até a publicação desta checagem qual a fonte dos dados citados pelo presidente Temer.
A queda de 16% no desmatamento, a que Temer se refere, ocorreu na Amazônia. Segundo levantamento do Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a área desmatada recuou de 7,8 mil quilômetros quadrados em 2016, para 6,6 mil quilômetros quadrados no ano passado. Em 2016, o desmatamento havia crescido 27%.
Embora tenha ocorrido de fato uma redução na taxa, a área total desmatada na Amazônia no ano passado ainda foi mais alta que o registrado antes de Temer assumir a Presidência, no início de 2016. Em 2015, por exemplo, foram desmatados 6,2 mil quilômetros quadrados e, em 2014, foram 5,201 mil quilômetros quadrados.