Ceará convoca 1,2 mil militares da reserva para reforçar combate à onda de violência
Convocação ocorre após Assembleia aprovar lei que permite chamar policiais militares já aposentados. Ceará vive onda de violência coordenada por facções criminosas.
O Ceará vai convocar 1,2 mil policiais militares da reserva para reforçar no combate aos ataques coordenados por facções criminosas no estado. A convocação é possível após aprovação de lei na Assembleia Legislativa, em sessão extraordinária neste sábado (12), durante o recesso parlamentar.
“É importante esclarecer que são aqueles policiais que foram para a reserva nos últimos cinco anos, não são de tanto tempo. É uma ação de curto prazo. A gente vai fazer uma avaliação da parte médica e física e destinar quais atividades. Um exemplo é que a gente está tendo a necessidade de ocupar alguns pontos, que não é do dia a dia da Polícia, e a gente pode ocupar com esses policiais”, afirmou nesta segunda-feira (12), em entrevista coletiva, o secretário da Segurança, André Costa.
Os policiais da reserva vão atuar no combate a ações de facções criminosas cujos chefes ordenaram, de dentro dos presídios, a sequência de mais de 200 ataques em 44 municípios do Ceará.
Além de convocar policiais aposentados, o pacote aprovado na Assembleia inclui as seguintes medidas:
- Lei da Recompensa, que paga em dinheiro quem denunciar autores de ataques ou fornecer informações que possam prevenir crimes;
- Retirada das tomadas em celas de presídios, para evitar que criminosos possam usar carregadores de celular;
- Aumento de 48 para 84 o máximo de horas extras que policiais civis, militares e bombeiros podem fazer por mês;
- Restrição da presença de pessoas no entorno dos presídios, com objetivo de evitar fugas;
Reforço na Polícia Rodoviária
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Ministério da Justiça informou que o Ceará vai receber reforço de policiais rodoviários para patrulhar as estradas federais do estado — Foto: PRF/Divulgação
Ordem dos crimes
Áudios compartilhados entre membros de facções criminosas que atuam no Ceará revelam ordens de presidiários para que comparsas ataquem veículos e prédios públicos como parte das ações que atingem o estado desde 2 de janeiro. As mensagens chegaram às autoridades após a apreensão de 407 aparelhos celulares nos presídios, em 6 de janeiro.
Em uma mensagem, um detento ordena: “Uns toca fogo na prefeitura, uns toca fogo nas coisa lá dos policial, tá ligado?” O Palácio Municipal da Prefeitura de Maracanaú, na Grande Fortaleza, foi um dos 49 prédios públicos atacados no Ceará. “Agora a bagunça vai começar é com força”, diz outra mensagem de áudio. “Agora nós vamos parar os ônibus, vamos tocar fogo com vocês dentro”, ameaça um terceiro detento.
A sequência de crimes é uma tentativa de fazer com que o secretário da Administração Penitenciária, Luís Mauro Albuquerque, desista de medidas que tornam mais rigorosa a fiscalização no sistema penitenciário. “Vocês vão tirar esse secretário aí dos presídios. Vocês vão ver, vai piorar é pra vocês”, ameaça um criminoso.
Entenda o que está acontecendo no Ceará
- O governo criou a secretaria de Administração Penitenciária e iniciou uma série de ações para combater o crime dentro dos presídios.
- O novo secretário, Mauro Albuquerque, coordenou a apreensão de celulares, drogas e armas em celas. Também disse que não reconhecia facções e que o estado iria parar de dividir presos conforme a filiação a grupos criminosos.
- Criminosos começaram a atacar ônibus e prédios públicos e privados. As ações começaram na Região Metropolitana e se espalharam pelo interior.
- O governo pediu apoio da Força Nacional. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, autorizou o envio de tropas; 406 agentes da Força Nacional reforçam a segurança no estado.
- A população de Fortaleza e da Região Metropolitana sofre com interrupções no transporte público, com a falta de coleta de lixo e com o fechamento do comércio.
- A onda de violência afastou turistas e fez a ocupação hoteleira no estado cair.
- 35 membros de facções criminosas foram transferidos do Ceará para presídios federais desde o início dos ataques, segundo o último balanço do Ministério da Justiça.
Ceará vive onda de violência desde 2 de janeiro, com mais de 200 ataques — Foto: Arte G1
*Com informações do G1