Em primeira entrevista Bolsonaro defende Paulo Guedes e IR único
Em sua primeira entrevista depois do atentando que sofreu em um ato de campanha em Juiz de Fora (MG), o candidato Jair Bolsonaro (PSL) saiu em defesa de Paulo Guedes, seu guru econômico, que aventou, em um encontro com investidores, criar um imposto aos moldes da CPMF — que era aplicado sobre movimentações bancárias. O economista também propôs imposto de renda único de 20% para pessoas físicas e jurídicas. Uma taxa também de 20% incidiria sobre a distribuição de lucros e dividendos.
A fala de Guedes causou mal-estar na campanha de Bolsonaro, que apressou-se em negar que pretenda aumentar impostos e ligou para seu mentor para pedir explicações. Segundo relatos da conversa, o economista afirmou que jamais teve intenção de recriar a CPMF, mas adotar um Imposto sobre Valor Agregado (IVA). Mesmo assim, após o episódio, o escolhido do candidato para comandar um superministério da Economia cancelou a participação em três encontros com investidores e operadores do mercado financeiro.
Agora, em entrevista por telefone à Folha de S. Paulo, Bolsonaro disse que Guedes “segue firme” e que sua fala foi distorcida. “O cara dá uma palestra de uma hora, fala uma coisa por segundos e a imprensa cai de porrada nele. Se ele usa a palavra IVA (Imposto de Valor Agregado) e não CPMF, não tem confusão nenhuma. Parece uma boa ideia, vamos estudar. A alíquota única do IR para quem ganha mais é uma boa ideia”, afirmou ao jornal.
O episódio deu munição aos adversários do presidenciável, que aproveitaram para centrar fogo na proposta de criar outro imposto. Alckmin declarou nesta quinta que a ideia é “um tiro na classe média e no pobre” e Ciro afirmou que o neoliberalismo de Guedes “instrumentaliza o fascismo”, enquanto Marina e Meirelles fizeram dobradinha no debate presidencial da TV Aparecida para atacar a recriação do imposto do cheque. A ex-ministra disse que está “tendo um incêndio dentro do ‘posto Ipiranga’” — apelido que o próprio Bolsonaro incorporou para se referir a Paulo Guedes, a quem sempre delegou um assunto que assume não entender.
Na entrevista, o presidenciável também afirmou estar bem após o atentado que sofreu e descartou participar de debates no primeiro turno em razão do processo de recuperação. Bolsonaro, entretanto, não comentou o movimento para controlar as falas de seu vice, o general Hamilton Mourão (PRTB), que na segunda-feira afirmou que famílias pobres só com “mãe e avó” são “fábricas de desajustados para o narcotráfico”. O presidenciável ainda se queixou dos ataques que vem sofrendo da campanha de Alckmin, que busca o mesmo eleitorado. “Ele pegou pesado. Eu não esperava isso dele, mas a verdade é que ele não é diferente do PT”.