Rússia expulsa 23 diplomatas, veta consulado e fecha Conselho Britânico
Rússia expulsa 23 diplomatas, veta consulado e fecha Conselho Britânico
O Ministério das Relações Exteriores russo divulgou neste sábado (17) as medidas em resposta às ações britânicas contra o governo de Vladimir Putin, acusado de envenenar o ex-espião Serguei Skripal e sua filha numa cidade inglesa no começo do mês.
Além disso, foi cancelada a permissão para a abertura de um novo consulado britânico no país, o que iria ocorrer em São Petersburgo, segunda maior cidade do país depois de Moscou.Por fim, a Rússia mandou fechar o Conselho Britânico, entidade que desenvolve atividades culturais e educacionais promovendo valores do Reino Unido e a língua inglesa. Neste caso, a alegação foi de que a entidade funcionava sem registro correto na Rússia.
Para diferenciar-se do governo britânico, cuja primeira-ministra, Theresa May, divulgou suas medidas retaliatórias em sessão do Parlamento na quarta-feira passada, a Rússia primeiro informou o embaixador do Reino Unido em Moscou das medidas. “O lado britânico foi avisado de que, em caso de haver novas ações não amigáveis contra a Rússia, o lado russo se reserva o direito de promover outras medidas retaliatórias”, disse o ministério, em nota.
A medida ocorre na véspera da eleição que vai confirmar mais um mandato para Putin, no poder como presidente desde 31 de dezembro de 1999. O caso Skripal é tratado na mídia russa como uma afronta ao país, já que o Reino Unido foi de grande agressividade nas acusações contra o Kremlin -o chanceler Boris Johnson chegou a dizer que o envenenamento provavelmente foi ordenado pessoalmente pelo presidente.
Politicamente, isso cai como uma luva para a imagem interna de Putin, visto em pesquisas de opinião como um defensor ferrenho dos interesse russos. Externamente, exceto que sanções econômicas mais duras sejam tomadas, por ora as queixas britânicas tendem a ficar apenas no campo retórico.
Os alarmes daquilo que o Kremlin chama de russofobia soaram quando Skripal e sua filha, Iulia, foram encontrados inconscientes num banco de praça em Salisbury, no dia 4. Ela visitava o pai, exilado no Reino Unido desde 2010. Eles estão em estado grave devido à ação de um agente neurotóxico chamado Novitchok, desenvolvido na antiga União Soviética nos anos 1970.
Isso bastou para May apontar o dedo acusador contra Moscou, embora especialistas sejam cautelosos e indiquem que o Novitchok pode ter sido facilmente retirado da Rússia durante a balbúrdia política e social que se seguiu à dissolução da União Soviética em 1991. Outros países que faziam parte do império comunista, como o Uzbequistão, também tiveram acesso à substância.
O histórico é desfavorável a Moscou e a seus serviços secretos. Em 2006, um agente exilado que era ativista contra o Kremlin, Alexander Litvinenko, foi envenenado com uma substância radioativa no Reino Unido e morreu. O inquérito que se seguiu acusou diretamente o FSB, principal serviço secreto sucessor da temida KGB soviética, e o Kremlin pela morte. Putin sempre negou responsabilidade no episódio.
O que torna o caso de Skripal mais nebuloso é o fato de que ele vivia uma vida tranquila após passar seis anos na cadeia na Rússia por traição: durante anos, como coronel do serviço secreto militar (o GRU), ele delatou o nome de agentes russos na Europa para os britânicos. Perdoado e trocado por agentes de Moscou que estavam presos nos EUA, ele acabou no Reino Unido. Parece improvável que a esta altura, oito anos depois, ele tivesse alguma informação sensível que já não tivesse contado a Londres.
Tanto o Kremlin quanto o contestado governo May podem auferir ganhos políticos internos com a troca de acusações, o que os torna suspeitos da morte em teoria, embora o risco de tal confrontação pareça alto demais. Há então uma hipótese talvez lógica, de que alguém que foi prejudicado no passado por Skripal resolveu tentar matá-lo. O problema dessa versão é que o Novotchik é de difícil acesso e uso, não sendo uma arma banal. Com isso, o mistério prossegue.
* Com informações da Folhapress.