Após morte de criança, onda de desafios online preocupa pais – fique atento

YouTube está repleto de ‘desafios’: do desodorante, ‘jogo do desmaio’, inserir camisinhas nas narinas para tirar pela boca, comer grandes quantidades de canela em pó, passar cola nas narinas e na boca, entre outros

Amorte de uma menina de 7 anos após inalar grande quantidade de desodorante aerosol acendeu o alerta vermelho sobre os “desafios” que circulam pela internet e têm nas crianças as suas principais vítimas.

Adrielly Gonçalves, de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, sofreu uma parada cardiorrespiratória no último sábado (3). Ela chegou a ser levada por familiares para uma Unidade de Pronto Atendimento, mas não resistiu. Um laudo do Instituto Médico Legal vai detalhar as causas da morte.

“Ela, criança inocente, colocou o desodorante direto na boca e desmaiou, tendo uma parada cardíaca na sequência. (Foi) por um motivo que jamais imaginamos, um vídeo sobre desafio de inalar desodorante aerossol”, escreveu um familiar da vítima no Facebook.

A família de Adrielly está fazendo uma campanha nas redes sociais para alertar sobre o perigo de crianças e adolescentes tentarem repetir ações divulgadas em vídeos na internet.

O “desafio do desodorante” propõe que seja inalado o produto pelo maior tempo que o participante conseguir. Outras versões orientam até a congelar partes do corpo com o spray.

Como cita a ‘BBC Brasil’, há ainda o “jogo da asfixia” ou “do desmaio”, em que os participantes disputam quem prende a respiração por mais tempo, além de desafios de inserir camisinhas nas narinas para tirar pela boca, comer grandes quantidades de canela em pó pura, passar cola nas narinas e na boca, entre outros, além de desafios que induzem adolescentes e crianças a tomar grandes quantidades de bebidas alcóolicas.

Conforme apurado pela publicação, a ONG cearense DimiCuida, voltada à conscientização sobre o perigo de jogos de asfixia, contabilizou 24 mil vídeos em português de “desafios de desmaio” no YouTube apenas na semana passada. Em inglês, existem outros 800 mil.

“E o número de vídeos fica extraordinariamente maior se contarmos outros vídeos de jogos semelhantes que também causam asfixia, como os da camisinha ou da canela”, explicou uma psicóloga da ONG Fabiana Vasconcelos.

O YouTube é reconhecidamente a plataforma em que a presença desses jogos são mais fortes, mas também é possível encontrá-los em redes sociais e em fóruns de games online.

“Muitos acidentes acontecem por causa (de brincadeiras assim), em que as crianças participam de desafios porque o amigo pediu, por exemplo”, contou o capitão Marcos Palumbo, porta-voz do Corpo de Bombeiros de São Paulo, à ‘BBC Brasil’.

“Geralmente o resultado é muito ruim, com lesões que duram o resto da vida ou causam a morte.”

O desafio do desodorante, que pode ter causado a morte de Adrielly, é perigoso por conta do alto teor de etanol (álcool) presente em qualquer tipo de desodorante

causa do alto teor de etanol (álcool) presente em qualquer tipo de desodorante, explica Anthony Wong, diretor do Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox) do Instituto da Criança da Faculdade de Medicina da USP.

“Esse teor é de 70% a 90%, muito maior do que o do uísque ou o absinto, por exemplo. E, ao inalar, o volume (de álcool) absorvido é extremamente alto, provocando uma inflamação da laringe e uma parada cardíaca”, explicou Anthony Wong, diretor do Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox) do Instituto da Criança da Faculdade de Medicina da USP.

O que fazer no caso de emergências

Especialistas orientam os pais a levarem as crianças ao pronto-socorro imediatamente. No caso da ingestão de produtos tóxicos ou alcóolicos, a orientação é nunca provocar vômito, pois pode obstruir ainda mais as vias aéreas.

Os responsáveis podem ligar para os bombeiros (telefone 193) ou procurar por centros de assistência toxicológica, como o Ceatox da Faculdade de Medicina da USP (0800-148110), que atende ligações do Brasil todo, 24 horas por dia.

Prevenção

Vasconcelos, da DimiCuida, orienta os pais a respeitarem a idade estipulada para acesso a cada plataforma, além de acompanharem a vida online das crianças. Para a especialista, não adianta proibir a criança de assistir a vídeos. “É preciso criar um ambiente (para discutir os vídeos) sem julgamento, mas sim com uma reflexão crítica, que ainda não está maturada nas crianças e adolescentes” orienta.

Além disso, é importante denunciar os vídeos com conteúdo duvidoso.

Em nota para o site, o YouTube afirma que “as políticas (da plataforma) restringem conteúdos que têm a intenção de incitar violência ou encorajar atividades ilegais ou perigosas, que apresentem um risco inerente de danos físicos graves ou de morte. Qualquer usuário pode denunciar esse tipo de conteúdo e nossa equipe analisa essas denúncias 24 horas por dia, sete dias por semana”.

João Alberto

Jornalista: DRT 0008505/DF. Radialista, Escritor e Poeta

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