Ruídos em Águas Claras ficam acima dos recomendados pela OMS

Estudo mostra que os ruídos causados pelos carros e pelo metrô, em Águas Claras, ficam acima dos recomendados pela Organização Mundial da Saúde

Ed Alves/CB/D.A Press
Freadas, movimentos bruscos ao volante, escapamentos irregulares e muita buzina. Esses e outros elementos presentes nas grandes áreas urbanas são ainda mais percebidos quando ocorrem na rua de casa. Em Águas Claras, a intensa movimentação de veículos gera uma poluição sonora capaz de incomodar o sono. Estudo desenvolvido pelo Departamento de Física da Universidade Católica de Brasília (UCB) comprova a reclamação. O levantamento revela que, na região, os sons ficam na média de 65 decibéis — acima dos 50dB tolerados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

O barulho excessivo é mais presente nas avenidas das Araucárias e das Castanheiras — principais vias de Águas Claras. Quem mora próximo à linha do metrô também sente o impacto do trânsito sob trilhos. São nos horários de pico (das 7h às 9h e das 16h às 19h) que os sons dos veículos causam grande impacto aos ouvidos. No ranking do barulho estão motocicletas, caminhões, ambulâncias com suas sirenes e buzinas.
Na companhia do coordenador do curso de física da UCB Cléber Alves da Costa, a reportagem constatou que, mesmo no período de férias, em que ocorre uma redução de veículos no trânsito, ainda é possível ouvir muito barulho em Águas Claras. Com o uso de um decibelímetro (aparelho que mede os níveis de ruído), a buzina de uma moto, perto da Estação Arniqueiras, emitiu 79dB. Um ponto a menos que o registrado nos momentos de passagem dos vagões do metrô. Dois carros transitando ao mesmo tempo somaram juntos 65dB. “Essa poluição sonora é característica do ruído rodoviário, comum em toda cidade grande”, aponta o professor.
Em busca de saídas
Por causa do incômodo, algumas pessoas escolhem se mudar de casa, outras buscam alternativas. Uma saída é a instalação de janelas antirruídos. Diretora de uma empresa especializada em esquadrias, Bianca Azevedo destacou que a procura pelo serviço tem crescido nos últimos anos. “As reclamações constantes da região se tratam do barulho do trânsito, principalmente buzinas, e do metrô. Anteriormente, trabalhávamos com outros serviços, mas, à medida que as pessoas foram nos procurando, decidimos trabalhar com o isolamento acústico”, especificou. “Os pedidos vêm principalmente de moradores de andares superiores (acima do quarto), que sofrem mais com o som das ruas.”
Na casa de Sebastião Souza, 51 anos, e Eliane Moreira Gontijo, 51, o sono era perdido devido ao barulho do trânsito. O quarto do casal é voltado para rua. A tranquilidade na hora de dormir somente veio depois da instalação da janela acústica. “Os barulhos são mais intensos pela manhã, quando todos estão de carro indo para o trabalho. Quem escolher morar numa via de grande movimento está sujeito a isso, por isso fizemos essa adaptação”, diz o corretor de imóveis. “Um detalhe que tem causado muita insatisfação é o uso exagerado de buzina. Parece que a cada dia o brasiliense está mais estressado no trânsito e acha que tudo é motivo para buzinar”, aponta Eliane.
O investimento em antirruídos foi feito, até então, apenas no quarto do casal, porém, futuramente, a intenção é colocar a estrutura na sala de televisão, que é voltada para a rua. “Tem horários que, para ouvir a televisão, temos que aumentar muito o volume.”, conta a professora.
No nono andar do mesmo prédio, o barulho é mais intenso. “Eu não conseguia dormir antes. Era um barulho ensurdecedor. Na tentativa de pegar no sono, eu ia para o quarto que não é voltado para a rua, mas acabava também sofrendo com os ruídos do metrô”, lembra o policial civil aposentado Homero José e Silva, 63. Por lá, também ocorreu a alteração das janelas para um sistema antirruídos. “O que causa mais incômodos são os barulhos das motocicletas aliados com a buzinas. Mas tudo faz parte do convívio. Não tem como se isolar totalmente disso”, acrescenta Denise de Azevedo, 58.
Ed Alves/CB/D.A Press
Níveis elevados
O estudo feito pela Universidade Católica de Brasília (UCB) identificou que o trânsito de Águas Claras gera níveis elevados de ruídos — de 60 a 65 decibéis. “O brasiliense usa muito carro e, aliado a isso, tem a característica da cidade. Águas Claras é vertical e os vão entre os prédios formam cânions acústicos que fazem o som se propagar ainda mais. O uso de blindex e cerâmicas nas edificações também facilitam essa propagação”, explica o coordenador do curso de física da UCB, Cléber Alves da Costa.
A ocupação do solo em Águas Claras é outro fator que contribui para os níveis elevados de ruídos. “Não existe uma área estritamente residencial ou comercial, como foi planejado no Plano Piloto. O uso do solo se deu de forma mista. Por isso também, o trânsito é intenso”, lembra. Avaliando os limites considerados aceitáveis pela OMS, o professor considera a meta pouco aplicável. “Toda cidade desenvolvida é sujeita a barulho. O que pode ser feito são estudos relacionados ao som para encontrar maneiras de diminuir os incômodos.”
O excesso de barulho pode levar à sobrecarga do sistema auditivo, segundo a otorrinolaringologista Tatiana Matos, do Hospital Santa Luzia. “Uma exposição a altos decibéis pode causar um trauma acústico, que ocasiona desde um zumbido até a perda parcial ou total da audição. Para não ter problemas, o ideal seria um ambiente agradável aos ouvidos. Quando algum som já causa algum incômodo, é sinal que está elevado”, detalhou. A especialista ainda explicou que é válido usar meios para reduzir os ruídos.

João Alberto

Jornalista: DRT 0008505/DF. Radialista, Escritor e Poeta

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